Eu não sabia que era membro do Substack. Talvez, seguindo alguém, acabei criando uma página. O fato é que, todos os dias, faz cerca de duas semanas, aparecem seguidores novos. Como se seguissem a mim por mim mesma, sem que eu ofereça nada em troca. Sem querer, nesse minuto, resolvi oferecer o que, imagino, esperam de mim: que escreva.
Vou começar com uma pergunta.
Quem se refere a uma mulher, com mais de sessenta anos, como “velha"?
Imagino que a maioria tenha dito: “eu não". É ofensivo e deselegante.
Como se referir a essa mulher, então?
Idosa, Ótima para a faixa, Conservada, Melhor idade, Terceira idade…eufemismos artificiais e falsos. Todos horríveis.
Por que não “velha"? Uma jovem diz, orgulhosamente, sou “jovem". “Jovem” vem de “juvenis", que é “recente, novo", alguém que está há pouco tempo frequentando a vida.
Por oposição, quem já está há algum tempo por aqui, é o “vetulus", que significa “vivido".
Qual a vergonha de ter vivido mais tempo?
Nós, velhas, temos menos juventude. Só isso. Mas tem uma coisa que só nós temos a mais que qualquer jovem: tempo. É como se carregássemos uma mochila permanente nas costas, onde ficam se amontoando lembranças. Temos mais memórias, mais histórias e mais personagens dentro de nós.
Tenho alegria em ser “velha".
E estou te convidando para pensar comigo sobre o envelhecimento (fenômeno que acomete a todos, de bebês a mulheres de mais de cem anos).
Me diga o que acha da ideia. E do nome dessa coisa aqui: “Jogo da Velha".
Minha mãe passa o tempo todo anunciando que está velha. Faz tanto tempo que ela diz isso, que eu também, de repente, fiquei velha. Mas não anuncio. Nem precisa. E outro dia encontrei essa joia de Mia:
A ADIADA ENCHENTE
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.
(Mia Couto)
te amo <3 viva você e todos os projetos que você inventar.